Clínica de reabilitação para fãs de Survival Horror
Quando eu, que sou uma mega fã do gênero de survival horror, vi os primeiros trailers e as primeiras imagens de The Evil Within não consegui pensar em outra coisa a não ser "EU PRECISO TER ESSE JOGO!".
Tudo que eu via era exatamente o que qualquer fã do gênero quer em um jogo desses, muito sangue, monstros assustadores, ambientes ameaçadores e a assinatura de Shinji Mikami, o criador de Resident Evil.
Nos primeiros 20 minutos de jogo The Evil Within faz um bom trabalho ao colocar o jogador numa atmosfera já bem conhecida, um pouco do história é apresentado mas mantendo um certo mistério, você tem seu primeiro confronto com um monstro para apresentar as mecânicas de combate, consegue seu primeiro upgrade e até então tudo bem.
Após estes eventos, quase instantaneamente The Evil Within começou a se tornar extremamente difícil e frustrante, eu tinha poucas balas para matar inimigos que demoram para morrer, poucos recursos para me curar quando ferido e não tinha nenhum tipo de visão de raio-X mágica para saber em local do mapa meus inimigos estavam.
Após estes eventos, quase instantaneamente The Evil Within começou a se tornar extremamente difícil e frustrante, eu tinha poucas balas para matar inimigos que demoram para morrer, poucos recursos para me curar quando ferido e não tinha nenhum tipo de visão de raio-X mágica para saber em local do mapa meus inimigos estavam.
Foi só depois de morrer pelo menos umas 20 vezes nos capítulos iniciais que eu me dei conta do que estava acontecendo, que o que temos chamado de "Survival Horror" ultimamente não chega nem perto disso. Jogos como Resident Evil 5, 6 e os últimos Silent Hills (que são ótimos jogos, não me entendam mal), que têm suas franquias consideradas como marcos do gênero de Survival Horror, hoje em dia são ótimos jogos de ação com monstros e zumbis mas que perderam o que esse gênero tem de melhor, o senso de desespero. É muito tranquilo enfrentar hordas e hordas de monstros e zumbis se você tem 80 armas, 800 balas, 20 ervas, upgrades e um parceiro pra te ajudar.
The Evil Within tira tudo isso do jogador e o coloca no meio de um ambiente ameaçador, cheio de inimigos e com recursos quase inexistentes. Demorou um tempo para que eu entendesse que eu estava mal acostumado e que The Evil Within é o verdadeiro survival horror de volta as raízes, funcionando como uma clínica de reabilitação Survival Horror e me tirando todos os vícios que adquiri ao longo dos últimos anos.
A partir do momento que eu entendi qual era a proposta real do jogo tudo mudou e eu entendi o quão bom o jogo era.
Em The Evil Within você tem que estar o tempo inteiro atento e pronto para qualquer eventualidade e ao mesmo tempo ter a frieza de saber administrar seus recursos de maneira inteligente. Qual é o melhor momento para usar uma seringa de cura? Qual é o melhor jeito para se matar determinado inimigo? Você usa as poucas balas que têm ou tenta um combate físico? Aqui a sensação de "pisar em ovos" e o desespero são reais e não te abandonam em nenhum momento no decorrer dos 15 capítulos do jogo.
No que diz respeito a história, The Evil Within não traz nada de novo, você encarna na pele de Sebastian Castellanos, um policial perturbado (não poderia ser mais clichê), que tem que investigar um assassinato em massa em um hospital psiquiátrico. Para a infelicidade do jogo, Sebastian é um personagem desinteressante e totalmente fora do tom impresso pela ambientação do jogo. Mesmo com as coisas mais absurdas acontecendo a sua volta, não espere do protagonista uma reação maior do que o ocasional "Shit" dito quando algo avança contra ele. Não que eu estivesse esperando que ele saísse gritando pelo cenário, mas o fato de que ele parece tão indiferente faz com que o jogador não crie laços com o personagem e logo não se importe com seu destino, demonstrar o mínimo de emoção seria o ideal aqui. A falta de personalidade de Sebastian me fez pensar o quanto The Evil Within seria melhor com a presença de um protagonista como Jill Valentine, Leon Kennedy, James Sunderland (Silent Hill 2) e Joel (The Last of Us), todos carregados com emoção, força e medo na medida certa.
Graficamente, The Evil Within é impecável. Todas as paisagens e cenários parecem ter sido tratados como uma pintura e trazem para o jogador um senso de perigo que nunca vai embora. Seja andando por uma área rural no meio da noite ou nos confins de uma fábrica abandonada, tudo é muito bonito e desconfortavelmente realista. Meus únicos problemas com os gráficos foram o ocasional inimigo que atravessa paredes (não de maneira intencional, mas por erro de texturas gráficas) e a câmera que atrapalhava por vezes ficando presa em paredes, montes de palha entre outros, mas nada que seja extremante irritante e constante.
A jogabilidade é feita sob medida para fazer com que o jogador que não tem controle emocional se embanane frente ao perigo e para exaltar aqueles que conseguem desenvolver uma certa habilidade com os controles. As telas de inventário e a disposição dos controles são descomplicadas e inteligentes mas requerem uma certa prática para que você os domine. Você pode optar por uma abordagem mais stealth, mas eu senti que a AI dos inimigos é um tanto aleatória neste aspecto durante todo o jogo, muitas vezes os inimigos te percebem mesmo que você esteja agachado e escondido atrás de algo e em outras não te vêem mesmo no meio de um campo aberto sem esconderijos.
A escassez de recursos e pontos de save (aqui representados por espelhos quebrados em alguns pontos do jogo) me fizeram relembrar as máquinas de escrever de Resident Evil e a felicidade que era encontrar uma delas. Isto tudo fazem com que você sinta que cada tiro conta, cada seringa de cura é preciosa e a limitação de quanto de cada item seu personagem pode carregar (prepare-se que é bem pouco) acentuam ainda mais essa sensação.
VEREDITO:
The Evil Within não se assemelha em nada com o que temos visto do gênero Survival Horror ultimamente, e isso é ótimo. Ao jogar esse jogo é necessário que você tenha em mente que vai morrer incontáveis vezes, que tudo foi feito para dificultar sua vida ao máximo e que isso sim é um jogo de Survival Horror.
O jogo poderia ter um protagonista melhor e mais cativante? Com certeza, mas é possível passar por cima disso e apreciar o que foi feito aqui. The Evil Within conta com o puro terror, com a sensação de desespero e com aquele desconforto que faz com que os pelos na nuca se arrepiem para prender o jogador até o último momento. Não é o jogo perfeito, mas é traz uma experiência decente com um grande desafio e visual impecável para qualquer um que seja fã do gênero.
The Evil Within está disponível para Ps3, Ps4, Xbox 360, Xbox One e PC.
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